quinta-feira, dezembro 06, 2012

Ode ao mundo (e aos que nele ainda persistem)

Não sou filho de alguém mais que meu pai e mãe.
Mas discípulo, sou, de todos os com que privei, e os que adquiri por palavras encadeadas entre belas e feias capas.
Faço disso meu sonho, não fé ou dogmas, mas um constante abalar da minha própria fundação.
Sou tanto pessoa como Pessoa, tão filho como o meu pai, tão feliz como o Hobbes e o Calvin seu dono, de Quino da Mafalda, de Asterix a Saramago.
Sou Deus e Cristo , sou ateu e triste.
Sou todo o mundo inalcançável de Shakespeare e camões, sonhador como Poe e com a mesma sede de Bocage...
Sou o infinito longe de mim, incerto de tecto no universo humano e de toda a humanidade, sou a bela vida de Caeiro e a feia arte do perfeito Maldoror.
Sou irmão de todos estes, e dos que esqueci, ansiando a absolvição prostrado de joelhos como M.Sá Carneiro perante todos os Mestres.
Mas antes de tudo, sou filho do Luis, homem mau para o negócio, mas bom para tudo e todos, sou filho da Ana a Mãe dos olhos perfeitos, Irmão de de uma outra Ana plena de sonhos e felicidade.
Sou tanto e nada, herdeiro de tantos e bons na verdadeira concepção da palavra.
Sou isto, um nada em crescendo.
Esse nada que a Náusea assiste.
Caminhando como todos, do mendigo ao rico,
para o certo vazio.
Como todos, rodeado do mundo.
Tão frio e doente,
tão doce e quente.
Que ainda sinto.

sexta-feira, outubro 26, 2012

26-10-2012 Évora

O meu eu que ontem cantava os versos do Manel, é aquele que mal se lembra das razões porque começou a cantar à muitos anos atrás.
De águas e pontes muita chuva fez correr a vida, tanto, que só desta forma percebemos quão pequenos e tão grandes somos no decorrer da nossa vida, em toda a sua totalidade, seja no passado, ou futuro, nunca realizando que para o presente mal olhamos.

sábado, outubro 20, 2012

Fátima 20-10-2012


Em Fátima não rezei
moribundo observei.
Inundado pelas gentes,
pombos rezas e crentes.
A paz me contagia,
vinda de um deus que não é o meu,
e que a tantos leva o breu.
Só, na multidão de fiéis eu vivo,
triste e enraivecido,
por não ter fé no meu espírito.
Em paz fico, por um deus que não é meu…

Talvez os homens não devessem apoderar-se da fé com muros e torres,
bastava esta paz, 

vinda de todos, tão iguais a mim e a tudo o que é ser.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Um dia eu vi


Um dia, não sei quando, há muito tempo atrás, eu deixei de acreditar que a felicidade existe por todo o mundo. Deixei de crer que os contos de fadas são reais, que o homem não magoa o outro, que o dinheiro funciona, que meu voto tem um significado, que as contas que pago são minhas, que vivo nos tempos privilegiados da humanidade, onde não se passa fome, que a vida é justa, que fazendo o bem o bem voltará, que sendo amigo não criaremos inimigos, que emprestando dinheiro nos irão pagar, que se gritarmos nos vão ouvir, que manifestando-nos vamos mudar algo. Que trabalhando vou construir a minha vida, sendo recompensado pelo que me esforcei.

Um dia, não sei quando, abri os olhos e vi maldade no ser, que a minha fome é tanta como a do próximo, que posso ser tão mau como todos. Que não nos vemos como irmãos, mas como um peão dispensável uns aos outros. Que a alegria e paz das religiões não funciona, porque quem vive na religião é o Homem, quem a faz e pratica é o Homem, e como é óbvio,  e pelo Homem ela não funciona.

Mas quem diz religiões, diz mais  outras ‘cias, ciências , democracias, e filosofias, tudo ideias de boas vontades, corrompidas pela natureza do ser .Que o comum para todos é lindo, é! Mas o Homem não quer ser comum, todo o Homem quer ser ditador, rei e rainha, dono do mundo, ser feliz sem esforço e dificuldades . Mesmo que isso destrua outro ser como nós numa qualquer parte do mundo, fechamos os olhos e continuamos, acreditando e enganando-nos a nós mesmos e aos outros, que o mundo é difícil, mas podia ser pior.

Mas podia ser melhor?

Um dia não sei quando, vi que o mundo era feio, e vi também que eu não era o único que o via, vi que muitos o viam, e por ele nauseados continuavam, existindo, inertes e estáticos, no emaranhado da burocracia que o sistema da vida comporta, passageiros.

Não sou passageiro?

Sou ser, homem e bicho, entre todos, gorado do sonho que existirá um dia a felicidade comum, tantos Homens mais do que eu o escreveram, mais perguntas deixaram que respostas deram, de sábios a vadios, foi sempre o nada como conclusão.

Um dia eu vi,

que não quero mais perguntas, querer saber o que nunca serei,
frustrado nestas linhas fico, querendo uma moral certa onde o certo não existe, que certo nunca serei, mas errado é o mais certo, frustrado mais um, ri-se a vida outra vez, com a morte à espreita, observando e cochichando, fazendo troça de outro mortal, que quis fazer perguntas e não as achou.

Tal como elas, 
que deixaram de perguntar.

sábado, outubro 13, 2012

Até já


Levanto-me de manhã na alvorada fria, o desconforto do despertar invade-me.
Visto a roupa para o dia, pego na alça da mochila, carrego a de um só movimento para as costas.
Num relance abro a janela como quem vê a luz do que vai ser , botas apertadas, abre-se a porta e deixa-se para trás o mundo que não carregamos, entra-se no inevitável e estranho, no real e pormenorizado mundo, na imensidão da paisagem carregada de imprevisibilidade.

Pé ante pé, em direcção ao infinito,
ansioso pelo que a vida pode ensinar
nas montanhas novas que há por escalar.

domingo, setembro 30, 2012

Tenho um tinto que me aclara a garganta,
pigarreia o pensamento e desobstrui o frio.

Só, por entre uma réstia de queijo curado e seco, um paio seboso e saboroso, traga-se o tinto doce e amargo, pesado e leve, deixando a língua aveludada.

Ouvindo carnavais lá fora, bombos e gritarias, o tinto se recolhe ao silencio dos estores descansados, recolhido ao meu copo, encolhido no fundo e expansivo no estomago.
Pigarreia a garganta, aquece o pensar, e produz o aveludar.

Pigarreia o senhor?
Pigarreie, mas o tinto é tão bom como o meu?
Deixe-se estar senhor, somos de vidas diferentes,
você é rico, eu pobre
Para mim tudo é dos céus,
e para si?

quinta-feira, setembro 13, 2012

A escrita deixou de ser minha quando deixei de ditar a verdade pela minha própria mão, sempre com medo dos meus próprios segredos.
Hoje, não é diferente dos outros anos que me lembram que não esqueci o lembrar.

Em pessoa que não conheço já, apresenta-se na minha pessoa uma consciência sobrevalorizada e desproporcionada com a realidade circundante.

Tudo o resto é estranho, escorregadio e de cheiro a mofo, as acções são de misera consequência e de baixo peso sobre o futuro.

A escrita deixa de ser minha quando a realidade deixa de ser minha.

sexta-feira, agosto 24, 2012

longe vai

Longe vai o tempo do sonho,
sentar e ficar em plenitude na realidade que se vive.
Longe vai a paz da ocasião, do que se quer e queremos ser .

Hoje somos só a razão sobre a raiva que busca a vontade de explodir,
explodir no mundo, nos próximos e afastados, já não nos vemos a nós proprios,
não compreendemos que o mundo que repudiamos em nós existe.

Longe vai o tempo do sonho...
O tempo do sonho que se imagina sem a preocupação de querer sonhar.
Longe vamos nós,
de nós mesmos.

segunda-feira, agosto 13, 2012

Enfrento-me na realidade, agora, com muita pouca frequência, já não me perco por caminhos que não encontro,
simplesmente caminho.
Como um estúpido, ingénuo e feliz infeliz, eu vou seguindo o vazio que o cansaço da curiosidade me trouxe.
Sigo rumo ao nada que sempre enfrentarei.
Se sempre será vazio...
Mais vale não me inquietar com as perguntas (às quais nunca haverá resposta?).
Em frente pé ante pé.
Deliciando-me pela viagem.
Adiante.

quinta-feira, agosto 09, 2012

Férias

Por que caminhos andas tu?
Terras e casas desconhecidas, pés e mãos imundas, unhas de terra incrustadas por montanhas escaladas.
Por onde andas tu que não te encontram?
Sou eu que me perco, não me procurem a vida, estou a fugir dela querendo viver.
Serás algum dia como todos os outros?
Um dia serei, mas aí não me encontrarei.

quarta-feira, junho 20, 2012


Do desassossego ao aborrecimento, contam-se os dias de forma rotinada,
O aborrecimento dá lugar à razão,
A razão exausta da realidade, submete-se, não exige ou implora,
O ser submetido à razão aborrece-se,
Não implora, habitua-se.

Habituado o ser existe, não realiza através da razão o dessossego que o transforma e difere.
Habituado o ser existe,
mas aborrecido.

sexta-feira, junho 15, 2012

Senhor Pastor


Manhã serena, cheia de terra molhada no odor.
Faz um frio húmido sobre o chão seco,
tudo lembra a chuva que vem,
e nesta hora que o sol se apronta,
vem o pastor,
Hoje tal como todos os dias, sempre por esta hora, vem de camisola cor de rosa da Lacoste, guarda chuva, (porque vai chover?) um saco de plástico com o farnel e calças velhas, castanhas e sujas.
Sempre à mesma hora de manhã passa aqui, sempre de tarde volta (para casa?).
Sempre passa, olhar no chão, calado, a poucos metros de mim, nunca bom dia ou boa tarde, noite, grunhido ou quer que seja.

Atravessa a estrada, salta a vedação com tudo o que carrega, devagar, junto ao poste que é mais fácil, com uma paciência simples, pé na rede, alto sobre o farpado pula ao outro lado, sério, sólido, não se revela triste, só calado, nunca resmungando.

Senhor pastor, hoje que vem de cor de rosa, cheire a terra molhada, levante o nariz e veja.

Talvez não seja um pastor feliz,
que a falar verdade,
além de nos versos, nunca vi um que o fosse,
a falar verdade,
a merda de ovelha também cheira mal.

terça-feira, junho 12, 2012

Literatura e tudo o resto

Nenhuma novidade, nada.
Tudo à volta do mesmo,
do umbigo, do amor, da vida, da morte.

Mas o que é belo, ignoramos.
Está na hora de abrir as janelas.

Ou se atiram delas,
ou apreciam a paisagem.

sexta-feira, junho 01, 2012

Chegar a velho


Viver tudo até ao fim,
fazer tudo para chegar a velho?

E velho nada ser?
Porque não a própria vida, todos os dias e segundos, todas as manhãs e noites como a ultima?
Porque somos todos o mesmo, sempre vivendo além do que não queremos, e nunca iremos ser, realizando o nada, prolongando o visita.

A visita, é feita para ser apreciada, senão quando a acabarmos, estaremos vazios de nada, seremos sempre o nada.

Apreciando, acabaremos e estaremos com o mesmo nada, mas ao menos apreciámos, sentimos, e mais importante que tudo sobre qualquer uma ideia do que é ser, é o facto, pleno e simples, que nos faz realizar que nesta utópica visita, vivemos.

segunda-feira, maio 28, 2012

Mochila

Assim se vê como o nada toma lugar ao tudo,
o desassossego se desmarca,
a imensidão se torna escassa,
a realidade realiza-se através do próprio ser
sem o excesso de ideias, ou pensamentos marcados.

Tudo se encaixa e deixa de ser maior,
para ser simples e verdadeiramente real,
quando a mochila se carrega,
em caminhos longos e incógnitos,
a vida é séria, não mais fútil do próprio querer.

Quando a mochila se carrega,
a vontade toma lugar,
e jamais outros irreais desejos,  terão mais força,
que a liberdade de ser só, pé ante pé,
para um destino desconhecido, tão perto de alcançar,
tão longe de tudo,
com tanta liberdade.

Assim se vê que os versos deixam de ter importância,
quando os sonhos se vivem.


quarta-feira, maio 16, 2012

Parece que a noite de ontem...


Tenho um problema de maior,
os vinhos bons não se acabam,
são bons e não há nenhum pior,
só me lembro do cheio que as garrafas estavam.

Da vida e de tudo o resto,
fica aborrecido e muito além.
Que a mim mesmo não me dou por certo,
eu sei,  mas sera vida diferente a mais alguém?
''
Há seis copos que digo que é o ultimo,
a verdade é que nisto nao vejo nenhum refugio,
mas sabe  bem, oh se sabe bem,
que mundo é esse e quem dele quer saber quando há tanto para provar e ninguém se abstem?

O jovem, encontra o velho e em conversa simples de ocasião partilha a sua vontade e lembrança:
Você faz-me lembrar a mim mesmo, quando tinha a sua idade.
O velho sem nada clamar se interroga.
O jovem simplesmente informa:
Era demasiado confiante, com tanto vivido e tanto por saber, era pouco o certo,você tem tempo, já eu, estou confiante que me resta pouco para ser certo.

domingo, maio 13, 2012


Simplicidade, simplesmente a simplicidade.
Ao tudo do que nos afecta, excluímos a mera possibilidade de não reparar na genuína oportunidade que temos para simplificar o simples.
Dito de forma simples
É cagar para tudo
simplesmente ser.

....
Enfrentando tudo, e tudo ultrapassando, dando ao nada a importância necessária.

........
Ou então não poder explicar nada do que atormenta, enrolando pedras encosta acima, sempre subindo para deixar cair tudo sobre  o breu, e mais uma vez  recomeçar.
...
...
Pacificando a mente para ser o próprio, realizar-se com pedaços de acordes que se deixam perder na imensidão da metafísica, desimaginando o senso da vida, transformando o desassossego na realidade plena que existe, transpondo fronteiras, para o nenhum, todo ele pleno.
...

...
Dito de forma simples?
.


quinta-feira, maio 10, 2012

Senhor


E assim foi, não?
O que?
Mais um copo do vinho, que de bom não era pouco, mas demasiado pouco ficou, tanto que acabou
Mas onde quer chegar?
Que o vinho faleceu, e que faço agora eu?
Pode sempre parar de rimar.
Homem estou bebado, quem me dera eu.
Sugiro que não beba mais vinho.
Rapaz, traga-me um novo jarro.
Acabou
Então tudo acabou.
Vai-se deitar?
Não, traga-me mais tabaco, tenho mais coisas para dizer a mim no resto da noite.

sexta-feira, maio 04, 2012

Meia Noite em Évora


Como fugir perante o pensamento da nostalgia que me inunda?
É somente ser eu, o eu presente, o que vive e escreve sobre o que gostava de ver, não o que não existiu, nada de outras eras ou génios e ideais.
Sou o que me faz pleno por estas horas, vivendo, o que me destinei a fazer à minha imagem, sobre todas as afrontas ou as mais pequenas realidades, eu devo viver, porque esta oportunidade não será minha por muito tempo, não, porque não acredito na vida além, serei então aqui, o que posso ser aqui, seja o tempo que é mau, esse que sempre o foi, ou a vida nefasta que sempre intimidou os que dela deviam usufruir.

Sejamos então nós, seres pensantes numa nova idade tão igual como todas as outras, com as mesmas divagações e perguntas que todos criaram apavorados pelo viver.

Ser,
como o mestre nos quis fazer,
esse que vivia do vento
guardava rebanhos e do sol se banhava,
num mundo igualmente mau e feio,
como nós.

Que somos maus e feios,
mas vivemos, como tantos outros,
vivemos.
Não sejamos agora um empecilho de nós próprios,
como outros os foram, pensando carregar a vida,
em vez de nela fluir. 

domingo, abril 29, 2012

Escreve


Escreve porque queres,
porque ninguém vai ler,
porque os sonhos são o que pensas sem que ninguém veja.
Escreve o que és,
porque ninguém te vai criticar,
porque tu és a soma de todo o teu ser,
sem nada que o contradiga,
porque a  vergonha não existe quando te mostras a ti mesmo.

Sentimentos e existir, tudo o que  te preocupa e molda na vida que não sabes viver, pesadelos que te assombram, sonhos que escondes por serem irreais, ilusões que crias com medo de desilusões, paixões e ambições tais que ao céu te transportam.
Escreve-as, para ti, para o mundo, sem aspirar ao nobel ou ao mais pequeno elogio de quem não buscas.
A vida vive, sente, ama, respira e expira, mas só tu a fazes realizar para além de ti.
Sem isso, essa forma de existir para além de ti, ainda que só para um pedaço de nada que a ti próprio apresentas, não pode existir.

Escreve, porque nada é mais belo que deixar soltar as palavras ao precipício, esse que  de nós mesmos fugimos,
enfrentamos,
e rimos,
porque não parece o meu eu a dizer aquilo.

Mas no fim,
ao reler o ridículo,
me compreendi.

O quão ridículos somos,
fugindo de nós mesmos.

terça-feira, abril 24, 2012

Hipocrisia


Palavra estranha no vocabulário

Que coisa, isso de hipocrisia,
maneira de ser de gente pequena,
que não se entende sobre o que lhe assenta,
fauna fria,
não má, só néscia.

culpa deles e da sua mente mal esculpida,
cada um é seu próprio artista,
tristes donos da sua pequena salsicha,
não incha,
não penetra,
tal como seu juízo
não dá uso pra festa

ide à vossa vida,
não desassosseguem os que repousam da malícia.

segunda-feira, abril 23, 2012

Morder lábios


Morder lábios
...
Morder lábios
...
Morder lábios

Estou entretido aqui no banco da praça, olhando a senhora que passa, e sem qualquer intenção de fazer rimas,
esta senhora é muito senhora de si, tem um trajo impecável para os dias de hoje onde o desleixo aliado à pressa é palavra de ordem, mas apesar de caminhar depressa mantêm o passo certo e correcto perante todo o espaço calcetado a percorrer.

O meu tempo é livre e completamente desprovido de objectivo, a senhora que se apressa é mantida no meu aborrecimento que a observa, isto a prende agora ao meu tempo para lhe fazer perguntas enquanto caminha para o outro lado da praça, e se distancia cada vez mais do banco aqui da outra ponta.

Diga-me então a senhora de cabelo consolidado por lacas e outras iguarias modernas, a que deve a sua educação sobre os prazeres carnais, deixe-me reformular a questão, formação, eu queria dizer formação, a senhora apresenta-me um passo regular e olhar em frente, digna de um crescimento rígido, correspondência de um percurso religioso na sua educação que certamente a iria influenciar no acto carnal.

Repare que agora a minha pergunta não tem como objectivo adivinhar as suas fantasias sexuais adormecidas pelo passar dos anos, por agora enquanto ainda me encontro em mim, a pergunta que desejo fazer tem mais a ver com o que imagino e não o que deduzo, isto para afastar de vez a mesquinhez da fonte intelectual, mas para dar espaço à minha imaginação sobre o que eu quero saber.

Morder lábios, é só nisto que me prendo, e vejo que a senhora não se prende pois continua a caminhar praça adentro e eu me mantenho sentado preso nesta conversa inalcançável. Nesse alto de dezenas de anos próximo da centena ou mais próximo da meia, eu imagino a quantidade de coisas que você me pode referir sobre o acto de morder lábios.

Pergunto porque respeito a posição da senhora nesta praça, nunca querendo alcançar a sua respeitosa figura para dentro das minhas fantasias, pergunto porque sou jovem, tanto quanto o posso ser, e vejo e revejo entre eu e os meus pares um excesso de confiança sobre o amor ser só nosso e nele toda a panóplia de gestos que podemos arrancar para sentir um pouco mais.

Mas estas coisas de amor são antigas, já outros trovadores noutros séculos as sentiam e escreviam, mas diga lá então enquanto caminha, que é isso de morder lábios para si e nas suas memórias?

Só consigo imaginar um sem número de memórias suas onde o amor era coisa pura e imaculada, mas sei que tal é impossível perante o ser que sente, porque o amor não se sente só, ele espreme-se com força e reage aos imaculados com a surdez de um grito.

Diga-me a senhora que está prestes a sair da praça pergunto-lhe rápido e em segredo antes que desapareça,

Morder lábios,
era tão bom antigamente como é agora?

sexta-feira, abril 20, 2012


Apresentar perante todos a presença forçada da pessoa não tem de ser a solução quando se quer ser algo que não os outros.
Sejamos então só nós.
Desde que felizes e icógnitos na presença irreal dos outros.

Que se beba vinho, que se brinde e adormeça envolto no nada, melhor que isso não pode haver.

Pinte-se a tela de branco, que todos vejam a beleza do nada, especados olhando o vazio de copos na mão, tristes figuras que deviam ser a tela e não buscar nela o que não existe.

domingo, abril 08, 2012

Antigamente

Eu sonho com o dia em que todos iremos lá para fora.
Iremos falar e olhar nos olhos uns dos outros, sairemos sem telemóveis, incontactáveis e verdadeiros, seremos singulares, felizes e incógnitos, realizados com a realidade seremos amigos dos amigos.
Falaremos com quem nos ouve sobre o que somos, não o que não somos.
Sem nada para fazer, aborrecidos, podemos apreciar uma paisagem ouvindo o nosso pensamento e tudo o que a natureza tem para nos oferecer sem a interferência do excesso supérfluo.
Ora isto meus caros, é o passado.
Já lá não vamos.

Ódio

Ter ódio é coisa feia quando se escreve,
é mau, corrói,
ranger, gritar, esmurrar,
mas sabe tão bem
ser o que se sente,
ainda que se perca a razão,
não do que se sente ,
mas aos outros que ouvem e não sentem,
nunca vão ouvir quem odeia,
mesmo que se odeie muito,
mesmo sendo a verdade.

Ter ódio é coisa feia quando se escreve,
fica mal dizer coisas feias,
mas eu sinto,
então digo:
Vão-se foder todos vós que o merecem,
porque porvezes a mais bela das palavras para dizer o sentimento ao mundo de peito cheio é
FODETE
bem juntinhas todas as letras, carregadas de sentimento,
uma bigorna bem pesada que caia em cima dos odiados,
que os foda bem, seja em maneira de dizer ou de verdade,
o que interessa é que se fodam.

Isto melhora a minha pessoa?
Não! Piora!
Mas que se foda, sabe bem dizer ao mundo o que ele nos diz todos os dias.

05/04/2012

quinta-feira, abril 05, 2012

Nada

Sim, nada!
Além do sentido que procuramos para preencher o vazio está o nada que existe em tudo, mesmo que queiramos algo que não está lá.
Temos que procurar uma razão para tudo, mesmo que não tenhamos, e não temos, caso contrário que faríamos nós num mundo onde não há nada.
Pousei a Náusea, alcancei a onça e meti um filtro à boca enquanto acondicionava os meus pensamentos junto do tabaco no papel de mortalha, enrolei tudo com cuidado e mestria, orgulhoso do cilindro imperfeito acendi o cigarro,
inspirei o nada,
expirei o nada....
Encostei-me na cadeira olhando a janela, estiquei os pés por cima da mesa,
sem Náusea alguma continuei fumando, tal como todos antes de mim,
continuei fumando.

quarta-feira, abril 04, 2012

Sim?
Não não vou sair, ah pouco me importa, ora estou bem,
tenho coisas para fazer, sim a parede,
tem conversas sempre jeitosas.
Um dia destes, não, não me chateio,
à coisas piores em casa para chatear que ai fora.
Manda cumprimentos ao pessoal, eles sabem que isto de tempos a tempos é assim.

quarta-feira, março 28, 2012

Que dirias se falasses com deus?
Não um deus qualquer, mas um Deus, daqueles que criaram tudo o que é visivel e invisivel, dos que criaram tudo o que não sabemos.
Ele não respondia a perguntas, por isso ele não se mostra tanto, são demasiadas perguntas, ele é timido e não há tempo para explicar a quem não sabe.
Eu diria que gosto do trabalho dele, mas podia fazer melhor para ser só um.

E olha, mete sofás no inferno.

Seu "Palhaço Metafísico".

domingo, março 25, 2012

A Joana Sonha?

O João, enquanto comia pão,
devia adormecer a mana
queria fazer uma história para a Joana.

Mas era muito difícil contar a história inventada
mais difícil ainda era se fosse rimada.

Mas o João não desistiu
e toda coragem admitiu,
a história viria a qualquer hora
devia vir rápido ou a Joana chora.

Mas rimar rimar rimar
coisa difícil e ela pode chorar
nada para a adormecer e eu não sei cantar,
só sei coisas aborrecidas, nada de pasmar

Reparou então o João
já não havia pão
a mana dormia
e a história fugia

O João deu-lhe um beijo na testa
e foi buscar mais pão.
Mas que história foi esta?

A Joana já sonha
e o João enquanto come pão
na folha escrevinha
“de agora em diante toda história será enfadonha”

domingo, março 18, 2012

Concepção independente da realidade às 5 da manhã

Por vezes damos por nós a olhar o mundo à nossa volta e percebemos que devido ao que vimos ao longo do tempo que por cá estivemos, todo o universo deixa de ter importância.
Fazemos escolhas para além das pessoas e dos seus mundinhos que colidem, vivemos de acordo com o que conseguimos atingir em nós próprios, somos um só com o que escolhemos.
E isto não é mau, é simplesmente um filtro que deixamos ou não entrar por escolhas bem feitas, mas se faz mal a realidade ser diferente a quem o demonstramos?
Que interessa isso?
As coisas começam a fazer mais sentido quando atingimos a meta que esse deus nos delineou, quando aceitamos que o sentido é inexistente.
A metaconsciência atinge quem a busca, somente porque a ela mesma lhe pertence.
Devo ter atingido o ponto dos loucos, mas se louco sou? Porque não ei de ser como todos os outros?
E sou, pelo menos penso sê-lo como todos pensamos ser.
Só não tenho que explicar a todos, porque não se explica, é um conjunto de diversos factores que o empirismo nos trás, e nos evidencia a realidade que existe.
Esta metaconsciência plana na ténue linha que separa a realidade da loucura, é frágil, basta um simples vento para desequilibrar a concepção plena da realidade.
Por enquanto ainda não fui expulso da bolha por onde contemplo o mundo.
Felizmente e infelizmente, temos de partilhar o mundo onde vivemos com pessoas que não entendem esta concepção, cada pessoa ainda que fora de nós e dessa bolha, é necessária para podermos desfrutar a inteira realização de ser o que somos, só precisamos de viver com elas, aprender que nós, tal como todos somos animais, constituídos por canalizações e centros nevrálgicos quimicamente modelados tão iguais na sua condição como diferentes na sua modelação ao longo da vida. Somos somente a soma do que vivemos, como todos, mas vivemos aqui, num mundo finito onde todos queremos o mesmo, precisamos então de aguentar a realidade, saber controlar ao máximo aquilo que nos destrói, e desfrutar o que nos constrói.
Mas se fizermos algo de mal, afinal, somos como todos os outros.
E fazemos...sempre algo há-de acontecer porque sim, porque acontece, antes de ser inteligentes somos estúpidos.
A linha da moral, essa é também fina, instável e por vezes ausente, e nós fazemos asneiras.
Como já disse muitas vezes, somos pequenos bichos, livres e presos, e se existisse um deus ele não iria querer estar no nosso lugar, estar aqui é demasiado difícil e complicado tentando equilibrar as coisas, isto para quem pode equilibrar, graças a algo que se pode chamar sociedade média, existem outros que lhe não pertencem, são quem as escolhas de terceiros nos condicionam a ser moral ou implacavelmente destrutivos de forma mútua, criando um ciclo perverso de destruiçã0.

A bolha, a forma de planar, o assistir a vida perante todos e com todos contracenado de forma passiva e neutro, é impossível, mas pode-se tentar.
Assim o quero,
é uma questão de chatices,
e a vida é já demasiado chata para nos chatearmos com ela.

E esse deus que tantos me quiseram fazer acreditar, se existir, terei o maior prazer em lhe demonstrar que estarei errado, porque se existir, tudo tem um principio incorrupto para além da realidade onde morei e todos aqueles para quem existi, caso contrario, a vida será desconsolada, mas ao menos tentei viver num mundo onde não existe um deus em vez de tentar acreditar que existirá um deus quando não vivi.

Quando fechar os olhos,
irei de burro.
de carro.
ou não irei.
talvez fique.
mas se for…
que vá
para o nada
ou para o tudo.
mas vivi, não como os outros.
Fui menos aborrecido, tal como de onde vim.

segunda-feira, março 12, 2012

Sou c'mós outros

As tardes do Alentejo, ainda que de inverno, são quentes, são aborrecidas, têm sombras para os trausentes, mas não há muitos por aqui, são ovelhas que passam, e um cão que ladra, mas o homem não anda por aqui, entre todas as sombras só resta a ausencia de todos os que ficaram em casa, nenhum veio neste domingo sentar-se debaixo da azinheira respirar a calma que desejam nos centros comerciais, ninguém escreve poemas sobre o que sente, todos olham a televisão, partilham coisas no facebook e falam mal de quem são, e ninguem fica aqui junto ao poente, para variar ficou eu, porque é minha obrigação, meu trabalho, e cá a internet não existe.

Que seria de todos os poetas e escritores, que se em vez de sentirem fossem mais um na multidão a partilhar o mesmo de todos, o nada que aborrece, ficariam na distancia do individual que os fez ser unicos, mas eu sou só assistente, hipocrita e contente, vejo as coisas passar e falo mal delas, como todos os outros são, e não partilho isto no meu perfil porque o turno acaba às vinte e três, agora só as ovelhas pastam, eu vejo e fumo cigarros, entretenho o tempo, á espera de chegar a casa para abrir o navegador e mostrar que sou como todos os outros.

domingo, março 04, 2012

Por momentos submergi à realidade

Por momentos submergi à realidade

O homem corrompe-se a si mesmo, dentro de si, usando-se a si mesmo em busca do que não pode e deseja.
A vida, existe por si mesma, sem qualquer desejo vive-se, mas o homem como é na realidade quer algo, quer sempre o que não tem, como é óbvio.
A busca pelo querer, a vontade máxima de agir sobre um objectivo é o que faz as pessoas viver, mas ninguém existe só, a realidade é que as pessoas vivem juntas, os objectivos numa generalidade exacta são sempre os mesmos a todos porque num mundo finito o valor de algo comporta benefício de um e prejudicar o valor de outro.
Todos querem ser felizes, mas para o serem, alguém de alguma forma tem de ser infeliz, e isto cria um confronto entre todos.
Sendo pessoas que querem ser felizes existe no conflito o acontecimento da infelicidade, a corrupção do sentimento imaculado da felicidade deriva nas nossas próprias acções ao querermos ser felizes.
O que nos move é ser felizes, mas nunca o somos com o que temos, temos sempre a vontade do que não temos, o objectivo a alcançar todos os dias, o desejo de ser feliz, ser pessoa fora de tudo e ser feliz sem se incomodar com o mundo e todas as infelicidades que que a realidade da vida trás é o sonho de todos.
O sonho desta forma implica a infelicidade, não são possíveis as utopias, devido á corrupção da mente humana sobre a felicidade, esta que trás infelicidade sempre a alguém.
O ciclo vicioso onde a felicidade existe por momentos, deixando espaço ao sonho para chegar e livrar a vida da infelicidade é o quotidiano do homem, a causa é o sonho.
O que nos move e faz sentir é o sonho, os poemas são sonhos dos poetas, tudo o que trouxe a humanidade ao seu resplendor e avanço foi o sonho, eu escrevo estas linhas porque sonho com o paradoxo de uma utopia feliz, o sonho é algo hipócrita e irreal.
Só é possível existir felicidade sem sonhos, mas os homens sonham, esta nos genes das espécies, as gazelas não são felizes, nem os leões nem nós, tudo é infeliz, mas o sonho é o que palpita a existência do ser.
A humanidade que busca a felicidade, o pico e a utopia da sociedade perfeita é um infinito sonho irreal.
Mas como vivemos nós dentro de toda a corrupção do mundo sabendo estas verdades?
Fazemos o que sabemos fazer, sonhamos, só podemos não sonhar sendo felizes, ou mortos cerebralmente, drogados, distantes do mundo, estúpidos, seremos felizes.
Só são felizes os estúpidos que não sonham.
Os que existem, fora de tudo não querendo nada, os assistentes que deambulam e não notamos a sua presença.
Mas viver sem sonhar não existe, é inimaginável uma realidade onde não existam sonhos, será vácuo sem gente.
Os sonhos são hipócritas.
A realidade da vida é que o mundo só será o que queremos quando lá não existirmos.

quarta-feira, fevereiro 29, 2012

A estranheza da vida inunda-me à medida que me apercebo que ela, é algo que já mais irei compreender.
Limito-me a passar ao seu lado.

E todos nós ficamos como sempre, olhando uns para os outros, tentando compreender o real significado de estarmos a olhar uns para os outros.

sábado, fevereiro 25, 2012

Aqui estou eu, novamente como sempre, deitado a fumar, perdendo-me pelo fumo, só, num quarto de luz amarela, leve e desarrumado, preenchido por tudo o que não faz falta, cobertores velhos sobrepostos e roupa suja acumulada na sombra, sou espectador assiduo de mim mesmo.
Assisto a tudo o que sou neste quarto e me levou até ele, dentro de uma pauta aterradora que me transportou arrastando consigo, garrafas nuas e cinzeiros derramados, olhos ensonados.
Mais um dia desperdiçado, acabado em horas tardias, cientes de um dia aterrador na manhã seguinte, mas agora, no meio do caos, sou tudo o que a vida não é.
Sobrio, ou pouco, lisonjeado pelo silencio, me retiro, da rotina ainda que devassa, me cansa a alma, alma sã que já não se encontra no meio do que era antes.
Objecto.
Ser.
Como todos.
Sou ausente de mim mesmo, director de uma peça que me foge, que continua de forma pobre e aborrecida.
Assisto e rio dos actores, são feios, tudo é feio, cheio de tédio, assim entretenho o tempo, sendo o tempo na lentidão do tédio, este que me prolonga a vida.
Ainda que feio, assisto.

terça-feira, fevereiro 14, 2012

http://issuu.com/fazendofazendo/docs/fazendo_61_onlinepdf
Hoje decidi escrever vindo de mim, não de quem é inventado ou utilizado, hoje sou eu, e hoje sou tudo o que me rodeia,apaixonado, um simples e apaixonado ser pela vida, apaixonado pelos versos de Alberto Caeiro, apaixonado pela minha estante que me responde, apaixonado pelo silencio que me acompanha nesta hora antes de adormecer.
Sou agora tudo o que sempre quis, tudo o que desejava ser e ter, sou hoje e agora completo, pleno, assisto ao meu presente deliciado, esquecendo o quase passado que é distante.
Mas guardo entre todas as coisas os meus objectos, coisas que não são nada, mas me lembram o que fui quando hoje já não sou.
Mas além dos livros e jogos, além do meu próprio livro sobre outro nome, o que mais me delicia é uma capa de um Jornal regional, jornal esse que se encontrava à saída de uma casa que adoro, na Harmonia, costumo sair bastante torto e deliciado com a vida, extremamente fatalista ou optimista, não me lembro como decorreu tal noite, só sei que por entre tudo o que me levou ali, foi o olhar para a capa e ver um precipício, daqueles pequenos e estreitos planaltos, que se acompanham do horizonte infinito e do eco das ondas, que lá em baixo reclamam pela vida dos que saltam.
Visto o infinito no horizonte limitado por aquela fatal depressão, as belas palavras que a seguir se seguem decoram a fotografia que faz de capa:
"Não é o fim do mundo"

Não fiz mais que a minha obrigação de bêbado, roubei o jornal que devia ser gratuito, e hoje todas as noites e dias olho esta deliciosa paisagem.
Dito isto, vou dormir, melhor nunca farei.

Vitor Marques

domingo, fevereiro 12, 2012

Nunca se havia encontrado assim, completamente só, sem perturbações ao redor, sem pessoas a passar ou barulhos do tempo lá fora.
O contentor era aquecido por um silencioso aquecedor, daqueles a barras bem baratos que as avós têm no quarto.
A luz era de silencio, ombrava com a lua por entre o gradeamento das janelas, ele, aborrecido, entretinha o tédio com o seu excesso de tempo, sem o todo do exterior, a riqueza de bilionários com notas impressas em minutos, recostado na cadeira, acendendo cigarros com segundos, a verdadeira riqueza era sua.
A mão esticada apontava o cigarro, a sombra que se reflectia na parede oposta à janela era tudo o que a mente desejava, desde pequenos passaros a cisnes, ou mesmo uma simples mão,que se deliciava na suavidade do silencio, pedaços de horas e fortunas gastas se espaçavam pela sombra brincando na parede historias infinitas, o tempo era tudo quando o nada era o desejo de ser tedio, aborrecer, viver aproveitando cada segundo como deve ser apreciado, vivendo.

À hora certa, com tudo devidamente arrumado e limpo, a porta foi aberta, o frio foi aspirado pelo nariz para absorver o gelo exterior que preenche o seu interior de tudo a que fugia,
descido o degrau, a porta é fechada e trancada, a civilização aguarda e o tempo escasseia.

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Passei de pessoa quase inteligente que procura uma resposta das coisas, a um ambulante sonambulo, assistindo, já não perguntando.
Em vez de tudo o que podia procurar, vejo agora tudo o que não pergunto.
Sou um nada, talvez perdido, mas fora das coisas.
Sou o que nunca queria ser sobrio.
Mas zarolho fico, vendo mais que todos os outros,
o nada que todos querem e nada alcançam.

sábado, fevereiro 04, 2012

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Assisto como não assistia antes
na vida que aqui escrevi.
Vivia, sendo todo eu.
Hoje sou outro, perdido, observando os relógios chegarem a mais um dia.
Sou e sorrio, pleno num mundo de outros.
Sinto-me outro estrangeiro, carregando a náusea, pintando telas que não são reais para o mundo a que pertencem.
Sou vivo e adormecido.
Sorrindo para uma realidade distante.
Mas feliz, pleno, sem algo que me atinja.
Sem que a realidade me toque.

24/1/2012 Espinho grande
Sem dias a enfrentar,
sem coisas a desejar,
que Outono
que Primaveras?

Faço de uma hora meses e duvidas,
pequenas ideias são precipícios imensos,
fico perdido no inteiro ser que me não responde.

Fossem outros a viver por entre estes muros,
seriam loucos.

eu, sou imenso,
um imenso nada.




segunda-feira, janeiro 09, 2012

Sem pastores nos condominios

Ao acordar oiço na rádio, ao ler o jornal, ao ouvir as pessoas a falar, quando olho em roda vejo na cara das pessoas, todos as pessoas transportam de semblante carregado a sua vida em desgraça sobre a realidade humana, sobre a politica, sobre as guerras, sobre a economia, sobre os impostos, coisas que taxam o que não se pode taxar ou mais apreciar porque até ao fim do mês vamos ser apertados porque está mau, está mau porque sim, porque a vida é assim, coisas más da vida que acontecem e nós pessoas pequenas não podemos mais fazer do que nos conformarmos em carregar o sofrer de todo o mundo que vive contra si mesmo.
Enquanto percorro as ruas pela cidade que grita um silencio de dor, encontro junto a um páteo crianças a jogar à bola, rindo e correndo, lançando a bola de um lado para o outro, gritando sonhos, jogando à bola, simplesmente isso, não choram nem compreendem o que é na realidade tudo, mas são felizes sendo o que são, sem passado antigo ou o preocupar de outra vida.
Eu, sob os raios do sol fecho os olhos e oiço o vento que é o vento, sinto o sol que é quente, oiço as crianças que são felizes, cheiro as flores que entre os prédios conspiram o seu perfume, sinto a vida que é minha, sou eu porque sim, que ali estou sem o mundo.
Ao fundo oiço o buzinar de um qualquer condutor irritado com a vida, observo as gargalhadas das crianças como quem se olha noutro ontem.
Porque me chateia tudo se ser eu, vento e sol e tudo da vida,se me faz existir como as crianças?
Ainda que por breves segundos...
Porque não sou já tudo?
Como era sentir?

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Não tem que fazer sentido

Não temos que escrever sobre o que somos, sobre o que queremos ser, não se tem que escrever sobre o que vemos ou muito menos o que os outros nos dizem. A forma de criar algo do nada, estas palavras, letra a letra, são a minha fonte que jorra perante os dedos. Não temos que ser a mesma pessoa de manhã à noite, que sente e pensa tudo da mesma forma, se eu agora sou o que não era ontem.
A forma de viver deve ser igual e simples para todos, onde a palavra que como seres superiores, temos o dom de poder usar, o dever de a controlar e dizer como bem entendemos.
A vida não deve interferir com outras ao contacto a partir do momento em que as palavras são escritas e lidas pelos nossos lábios, a vida existe como um todo, continuo e linear que se abstrai das razões do ego.
Eu tenho o direito de me contrariar como ser estupido que sou, a razão não tem que ser total sobre o pensamento, a busca intensa e brusca da razão superior sobre todas as ideas queima a real sensação de viver, se eu tal como todos os outros me contrario agora penso o contrario ao que à pouco afirmava, porque me tenho que desculpar perante eu proprio?
Não temos que ser aquilo que nos destinaram a ser, não somos o pensamento de outros mas o exacto e unico bicho evoluido da soma de todas as fezes que o empirismo nos presenteou.
Não temos que fazer sentido, a própria vida não faz sentido, todas as contas do mundo não são mais que engrenagens que fazem o mundo funcionar dentro do seu proprio engenho, no entanto não existe uma disciplina que se relacione com o funcionamento humano e a sua extrema complexidade.
Teorias dizem eles.
Teorias tenho eu todas quando estou no banho.
Quando vou ao café, sou todo o mundo.
À chegada ao trabalho não há teorias que valham sobre a realidade nefasta da existencia humana.
Ao dormir sou tudo o que não era de manhã, sou o nada que não se compreende.
A mim o que me preocupa é não saber o que digo, agora, tanto como irei dizer amanhã, mas amanhã serei outro que dirá o mesmo de outra forma, ou outro que se irá negar.
Não somos diferentes dos outros seres por discordarmos de nós proprios. Nós nunca seremos o que queremos ser, excusamos então de correr a vida inteira procurando agarrar o que queremos para nós, e depois percebermos que nada daquilo que corremos nos faz ver a vida melhor perante o mundo.
Porque o mundo não faz sentido, e nunca, além da morte, iremos perceber a verdadeira razão de sermos carne vinda de carne para usar o universo querendo explicar o outro imenso e complexo universo que existe dentro de nós mesmos.
Não tenho que escrever coisas bonitas, não vou dizer coisas agradaveis a todos, não tem de fazer sentido a quem não quer entender ou quem não o consegue. A minha forma de existir é tão extensa e complexa como todos os outros, tem vazios de memórias como todos os outros, sou igual a todos os outros, logo não tenho que fazer sentido como os outros que falam para si e não fazem sentido.
A confusão é um dado adquirido à nascença que se irá extinguir quando o ultimo folego for libertado, a busca por um sentido de vida que dê sentido às frases sem sentido é uma ferramenta que deus nos deu para se entrenter conosco enquanto nos perdemos em labirintos de lógica para tentar explicar a existencia de um deus, que não existe.
A nossa mente derivada do contacto entre nós não faz sentido, não o faz porque nós nos escondemos perante os outros, e somos o nada que mostramos e lutamos diariamente contra os vários eus que existem ao longo dos dias.
Não temos que fazer sentido.
No entando somos todos funcionais,
a maioria.
Mas que coisa estranha falar de coisas complicadas quando ando para aqui a tentar ser funcional.
Este texto para mim não fez sentido.
Não da mesma forma como quando o comecei e durante todo o decorrer de bailado das falanges sobre as teclas eu me degladiei perante mim mesmo e todos vós,
o resultado, é o mesmo nada com que
comecei.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Coisas sem importancia

Quando eu não era eu, quando eu era só mais um aglomerado de sonhos, quando eu não conhecia a poesia que Pessoa me mostrou, quando não era pensamento mas sentimento, eu vi algo bonito que a vida me mostrava mas não compreendi.
Um poeta não vive dos seus versos, os poetas alimentam-se da vida e de tudo o que ela nos tem a oferecer, mas não vivem dos versos, eles vivem para eles.
Há os que os escrevem muito de nada e por fora escrevem uns versos, há os que são médicos, pastores, polícias, lixeiros, professores mendigos, mas nenhum deles vive dos versos.
Um poeta é condenado a deixar sentimento no papel impresso para que outros o entendam e não vivam a vida tão complexa quanto a deles, mas é um grito de socorro, para tentar encontrar no mundo a imagem de outro alguém que seja tão complexo quanto os versos o denunciam.
Quando eu ia um dia para a escola, despreocupado com a vida, acendendo o meu cigarro de adolescencia por maturar, um homem velho, de roupas rasgadas do trabalho do campo, botas gastas e rugas na cara, as suas mãos secas e incrustradas de cravos e marcas que a vida lhe deixou, meio sem vida, e amarelas.
Amarelas páginas o homem me esticou, eram da lista telefónica e páginas amarelas, mas não era papel escrito de coisas futeis como dados sem importancia, ele tinha algo escrito á mão que me declamava, vendia-me o que escrevia, 20 centimos o poema, insistia e prometia, são bons poemas feitos por mim hoje e ontem.
Jovem burro e dono do mundo, disse, não senhor obrigado tenho de ir a minha vida.
O senhor deixou-me ir, não me convenceu, e eu não fiz por mais.
Fui pensando o dia todo que no dia a seguir iria comprar-lhe uma refeição e querer saber a história de vida dele, dar-lhe ia bastante dinheiro do dia e ele ensinaria-me coisas interessantes.
Mas nunca junto ao parque de estacionamento dos autocarros o velho me apareceu com poemas amarelos em páginas tantas, faleceu, era tão antigo, digo que faleceu porque é o mais provavel, não lhe daria mais um inverno ou dois e eram suas ideias de vida.
Sempre procurei um poema à venda, mas não.
Poetas que vivem dos poemas já não existem,
eu sei, eu vim um dos poucos.
Mas não compreendi nada, tal como a vida me mostra hoje enquanto escrevo estes versos que um dia tudo isto é burrice enquanto eu podia dizer algo mais bonito