segunda-feira, janeiro 09, 2012

Sem pastores nos condominios

Ao acordar oiço na rádio, ao ler o jornal, ao ouvir as pessoas a falar, quando olho em roda vejo na cara das pessoas, todos as pessoas transportam de semblante carregado a sua vida em desgraça sobre a realidade humana, sobre a politica, sobre as guerras, sobre a economia, sobre os impostos, coisas que taxam o que não se pode taxar ou mais apreciar porque até ao fim do mês vamos ser apertados porque está mau, está mau porque sim, porque a vida é assim, coisas más da vida que acontecem e nós pessoas pequenas não podemos mais fazer do que nos conformarmos em carregar o sofrer de todo o mundo que vive contra si mesmo.
Enquanto percorro as ruas pela cidade que grita um silencio de dor, encontro junto a um páteo crianças a jogar à bola, rindo e correndo, lançando a bola de um lado para o outro, gritando sonhos, jogando à bola, simplesmente isso, não choram nem compreendem o que é na realidade tudo, mas são felizes sendo o que são, sem passado antigo ou o preocupar de outra vida.
Eu, sob os raios do sol fecho os olhos e oiço o vento que é o vento, sinto o sol que é quente, oiço as crianças que são felizes, cheiro as flores que entre os prédios conspiram o seu perfume, sinto a vida que é minha, sou eu porque sim, que ali estou sem o mundo.
Ao fundo oiço o buzinar de um qualquer condutor irritado com a vida, observo as gargalhadas das crianças como quem se olha noutro ontem.
Porque me chateia tudo se ser eu, vento e sol e tudo da vida,se me faz existir como as crianças?
Ainda que por breves segundos...
Porque não sou já tudo?
Como era sentir?

sexta-feira, janeiro 06, 2012

Não tem que fazer sentido

Não temos que escrever sobre o que somos, sobre o que queremos ser, não se tem que escrever sobre o que vemos ou muito menos o que os outros nos dizem. A forma de criar algo do nada, estas palavras, letra a letra, são a minha fonte que jorra perante os dedos. Não temos que ser a mesma pessoa de manhã à noite, que sente e pensa tudo da mesma forma, se eu agora sou o que não era ontem.
A forma de viver deve ser igual e simples para todos, onde a palavra que como seres superiores, temos o dom de poder usar, o dever de a controlar e dizer como bem entendemos.
A vida não deve interferir com outras ao contacto a partir do momento em que as palavras são escritas e lidas pelos nossos lábios, a vida existe como um todo, continuo e linear que se abstrai das razões do ego.
Eu tenho o direito de me contrariar como ser estupido que sou, a razão não tem que ser total sobre o pensamento, a busca intensa e brusca da razão superior sobre todas as ideas queima a real sensação de viver, se eu tal como todos os outros me contrario agora penso o contrario ao que à pouco afirmava, porque me tenho que desculpar perante eu proprio?
Não temos que ser aquilo que nos destinaram a ser, não somos o pensamento de outros mas o exacto e unico bicho evoluido da soma de todas as fezes que o empirismo nos presenteou.
Não temos que fazer sentido, a própria vida não faz sentido, todas as contas do mundo não são mais que engrenagens que fazem o mundo funcionar dentro do seu proprio engenho, no entanto não existe uma disciplina que se relacione com o funcionamento humano e a sua extrema complexidade.
Teorias dizem eles.
Teorias tenho eu todas quando estou no banho.
Quando vou ao café, sou todo o mundo.
À chegada ao trabalho não há teorias que valham sobre a realidade nefasta da existencia humana.
Ao dormir sou tudo o que não era de manhã, sou o nada que não se compreende.
A mim o que me preocupa é não saber o que digo, agora, tanto como irei dizer amanhã, mas amanhã serei outro que dirá o mesmo de outra forma, ou outro que se irá negar.
Não somos diferentes dos outros seres por discordarmos de nós proprios. Nós nunca seremos o que queremos ser, excusamos então de correr a vida inteira procurando agarrar o que queremos para nós, e depois percebermos que nada daquilo que corremos nos faz ver a vida melhor perante o mundo.
Porque o mundo não faz sentido, e nunca, além da morte, iremos perceber a verdadeira razão de sermos carne vinda de carne para usar o universo querendo explicar o outro imenso e complexo universo que existe dentro de nós mesmos.
Não tenho que escrever coisas bonitas, não vou dizer coisas agradaveis a todos, não tem de fazer sentido a quem não quer entender ou quem não o consegue. A minha forma de existir é tão extensa e complexa como todos os outros, tem vazios de memórias como todos os outros, sou igual a todos os outros, logo não tenho que fazer sentido como os outros que falam para si e não fazem sentido.
A confusão é um dado adquirido à nascença que se irá extinguir quando o ultimo folego for libertado, a busca por um sentido de vida que dê sentido às frases sem sentido é uma ferramenta que deus nos deu para se entrenter conosco enquanto nos perdemos em labirintos de lógica para tentar explicar a existencia de um deus, que não existe.
A nossa mente derivada do contacto entre nós não faz sentido, não o faz porque nós nos escondemos perante os outros, e somos o nada que mostramos e lutamos diariamente contra os vários eus que existem ao longo dos dias.
Não temos que fazer sentido.
No entando somos todos funcionais,
a maioria.
Mas que coisa estranha falar de coisas complicadas quando ando para aqui a tentar ser funcional.
Este texto para mim não fez sentido.
Não da mesma forma como quando o comecei e durante todo o decorrer de bailado das falanges sobre as teclas eu me degladiei perante mim mesmo e todos vós,
o resultado, é o mesmo nada com que
comecei.

terça-feira, janeiro 03, 2012

Coisas sem importancia

Quando eu não era eu, quando eu era só mais um aglomerado de sonhos, quando eu não conhecia a poesia que Pessoa me mostrou, quando não era pensamento mas sentimento, eu vi algo bonito que a vida me mostrava mas não compreendi.
Um poeta não vive dos seus versos, os poetas alimentam-se da vida e de tudo o que ela nos tem a oferecer, mas não vivem dos versos, eles vivem para eles.
Há os que os escrevem muito de nada e por fora escrevem uns versos, há os que são médicos, pastores, polícias, lixeiros, professores mendigos, mas nenhum deles vive dos versos.
Um poeta é condenado a deixar sentimento no papel impresso para que outros o entendam e não vivam a vida tão complexa quanto a deles, mas é um grito de socorro, para tentar encontrar no mundo a imagem de outro alguém que seja tão complexo quanto os versos o denunciam.
Quando eu ia um dia para a escola, despreocupado com a vida, acendendo o meu cigarro de adolescencia por maturar, um homem velho, de roupas rasgadas do trabalho do campo, botas gastas e rugas na cara, as suas mãos secas e incrustradas de cravos e marcas que a vida lhe deixou, meio sem vida, e amarelas.
Amarelas páginas o homem me esticou, eram da lista telefónica e páginas amarelas, mas não era papel escrito de coisas futeis como dados sem importancia, ele tinha algo escrito á mão que me declamava, vendia-me o que escrevia, 20 centimos o poema, insistia e prometia, são bons poemas feitos por mim hoje e ontem.
Jovem burro e dono do mundo, disse, não senhor obrigado tenho de ir a minha vida.
O senhor deixou-me ir, não me convenceu, e eu não fiz por mais.
Fui pensando o dia todo que no dia a seguir iria comprar-lhe uma refeição e querer saber a história de vida dele, dar-lhe ia bastante dinheiro do dia e ele ensinaria-me coisas interessantes.
Mas nunca junto ao parque de estacionamento dos autocarros o velho me apareceu com poemas amarelos em páginas tantas, faleceu, era tão antigo, digo que faleceu porque é o mais provavel, não lhe daria mais um inverno ou dois e eram suas ideias de vida.
Sempre procurei um poema à venda, mas não.
Poetas que vivem dos poemas já não existem,
eu sei, eu vim um dos poucos.
Mas não compreendi nada, tal como a vida me mostra hoje enquanto escrevo estes versos que um dia tudo isto é burrice enquanto eu podia dizer algo mais bonito