Se me perguntassem o que eu gostaria de fazer da vida eu respondia algo já sonhado, já respondido de mim mesmo, simples e explicado, bem delineado. Sei o que gostaria de fazer na vida mais do que aquilo que alguma vez irei fazer quando for o que estou a preparar-me para ser.
Sei que um dia queria não escrever, queria cantar e dizer poemas, ditos do coração ou de livros geniais, cantar dias inteiros enquanto cozinho a quem entra pela minha casa adentro, oferecer comida a uma bagatela, lavar as mãos e ficar com o cheiro do vinagre e do alho, da cebola e do vinho, tirar o casaco e cheirar os fritos, tirar o avental e sentir que o dia foi sublime, que não fiz mais que coisas bonitas ou pelo menos tentei faze-las.
Adormecer embalado nos doces por mim criados, oferecer salgados e pratos inventados.
Se me perguntassem o que eu gostaria de fazer na vida....
Eu respondia, mas ninguém hoje quer saber o que gostam os outros, todos nós somos o que não sabemos ser.
Todos sabemos que ouvir de alguém os seus sonhos vai dar asas aos nossos, e ninguém quer sonhar quando o mundo é tão infeliz.
Sonhar tanto quando não se pode lembra-nos que a vida é mais triste do que pode ser feliz.
Entretanto, vou cozinhando e cantando, para mim claro, loucuras a mais já são os meus cozinhados.