segunda-feira, agosto 30, 2010

Caras



Odeio nunca esquecer.
Esquecer o que peço para esquecer,
esquecer o que fiz sem querer lembrar.
São esses a que me peço para desligar.
Mas não, vou ficar com tudo, cada cara, cada sentimento a cada momento passado, de todas as pessoas com quem eu já olhei.
São centenas e centenas de álbuns de fotografia com caras e expressões, de sorrisos e lágrimas.

O que quero lembrar é,
o que não sei já. Que sei por vezes a quem não esquece o que não era suposto.

Conheces? Não.
Eu nunca esqueci, mas não me lembro da sua vida.

Tantas vezes perguntei ao mundo o porquê de viver se um dia vai desaparecer.
Hoje castiga-me.
Ele estigma-me a lembrança de caras e emoções que já não sei de onde vêm.
Faz parte da vida, relembrar uma cara com um vazio que nos atormenta.
Sei de tudo o que não era suposto. Sinto tudo o que não devia sentir.
Fico-me a esperar que um dia desapareça, e talvez nesse dia consiga olhar alguém nos olhos, se um dia a tiver visto, se tiver esquecido,
quero falar com um estranho e ler um novo olhar. Talvez mais tarde lembrar.

Porque...a vida....
...a cada momento....
...a
todo o momento devia ser guardado, frame a frame, como se todos os momentos ficassem presos em fotografias tiradas pela máquina velha e suja do teu tio, um momento revelado e guardado num álbum pesado para só ser visitado quando vamos arrumar o escritório ou mudar de casa.
A vida, pelo menos a minha, é um emaranhado de fotografias más que ficaram e as boas desapareceram, todos os dias tenho defronte de mim livro grande com cada momento passado para não lembrar, frame atrás de frame em papel fotográfico antigo de caras e sentimentos indesejados ou até de desconhecidos.

Um dia vou comprar uma máquina fotográfica bem velhinha e fotografar cada belo momento que viver, revelar em pelicula passada da validade e espalhar por todos os velhos álbuns os novos frames de uma nova vida.

João Francisco Marques

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