"Debruçado no embalar enjoativo das ondas, brincando com o fumo, tentando não cambalear como os barcos por estas horas inexistentes ao rio, descontrolado orienta o seu norte para o máximo que um olho fechado consegue orientar não expurgando o seu interior de tanto álcool assimilado, dá um novo fôlego no cigarro mal feito, engole o fumo tanto quanto pode, sopra para cima, observa o fumo libertado sobre o rio que se distingue claramente do nevoeiro fantasmagórico, prestes a libertar-se das aguas enfrentando as margens para consumir a cidade. Novamente inspira, inspira chupando para o seu interior a atmosfera pesada e satisfatória do cigarro, inspira, até não conseguir mais, sopra repetidamente, não sai mais do que um leve odor a vapor, olha com olhar estupidificado o ignóbil cilindro intencionado, papel rasgado e descolado, promove uma nova tentativa, aperta o paralelepípedo entre os seus dedos indiferentes, lambe a lateral por fumar, conseguindo empastar as ervas agora estragadas.
Enfadado, olha em volta, realizando a presença do seu parceiro que se
comprometeu a não adormecer consigo junto à margem, mais um pouco e ficaria ali
esquecido, não só por si, mas por ambos e suas simbióticas bebedeiras.
Empurra-o para o lado tentando que não caia para a água, antes que caia para a
confortável calçada que o suporta.
Acorda-o do coma instaurado, sem fazer um som, o retornado à consciência, esbugalhado, observa o horizonte inalcançável da neblina cerrada que o afronta, permanecem assim largos minutos que parecem horas, sem dizer uma palavra, um observado o outro que olha o nada, sem nada a apontar mais do que o doce e ébrio estar perante o mundo e suas tristezas de ausências pretendidas.
Já mais consciente de norte estabelecido e sem ondas enraivecidas, fazem-se dois cigarros, com enorme satisfação por serem dois cigarros semiperfeitos sem se desfazerem pela atabalhoada alcoolémia ao mínimo movimento, oferece o segundo cigarro ao parceiro, desmancha-se em espanto por ver lágrimas percorrendo a sua face, com os olhos postos no horizonte clamando silenciosamente algo perdido no imperceptível do nada.
Rendido ao mar de lágrimas, cede à questão e introverte-se nos pensamentos do alheio.
-Homem, pára de chorar, porque tás a chorar?
O silencio permanece, interrompido com soluços descontrolados, já desconfortável com tanta tristeza interpõe os soluços.
-Isto começa a ser estúpido demais, ninguém se mete a chorar para um rio, especialmente quando não vê nada nele.
Tentando-se controlar, sorve as lágrimas para si juntamente com o ranho já abundante, leva a cara ao ombro para limpar a baba que já seca no canto da boca.
-Ora não tenho culpa, choro, queres o quê?
Dois homens feitos, meio tortos, um fumando um cigarro de olhar espantado, o outro de olhos inchados, aceita o cigarro e acende-o, completando uma bela imagem por quem passe por detrás deles, duas silhuetas sentadas à beira rio, ambas fumegando. Mas sem ninguém que exista nas redondezas, a sua solidão propicia ao desabafo.
-Mas conta-lá, porra, nunca te vi assim, passa-se algo?
-Nada, estava só a olhar.
-Mas a olhar para onde? Não há nada ali, ó. – aponta em frente mostrando a interte e vazia palma da mão.
-Não percebes. – disse mergulhando a cara nas mãos.
-Epá, é possível, mas só a mim me podes explicar o que se passa, acho que mais ninguém irá estar assim como eu estou agora, completamente bêbado e receptivo a qualquer estupidez imperceptível que venha.
- Oh, espero.
-Esperas? Esperas quem, pelo barco?
-Não, comtemplo, observo, espero.
-Mas o quê homem?
-Nada.
-Nada como?
-Nada, desculpa, só espero algo.
-Mas como esperas tu se nada vem?
- Tens razão, já não espero, só comtemplo, mas se viesse, oh se viesse.
-Se viesse o quê? Quem?.
-Nada, nem sei, algo, alguém, que viesse, que venha.
-Fazer o quê?
-Algo.
O silencio invadiu os dois, fumaram o resto dos cigarros até se apagarem nos dedos, ambos observavam o nada da neblina até esta se decidir a dissipar e levantar-se, deixando a descoberto o infinito escuro da noite, reflectindo o céu nas águas inertes do rio.
Um solitário suspiro, seguido de outro.
-Emprestas-me dinheiro?
-Para quê?
-Para bebermos um copo, pergunta parva a estas horas.
-Já me deves o equivalente a dois meses de trabalho.
-E achas que te vou pagar?
-Não.
-Então vamos beber um copo, pois venha o que vier não será maior que a minha divida. "
Acorda-o do coma instaurado, sem fazer um som, o retornado à consciência, esbugalhado, observa o horizonte inalcançável da neblina cerrada que o afronta, permanecem assim largos minutos que parecem horas, sem dizer uma palavra, um observado o outro que olha o nada, sem nada a apontar mais do que o doce e ébrio estar perante o mundo e suas tristezas de ausências pretendidas.
Já mais consciente de norte estabelecido e sem ondas enraivecidas, fazem-se dois cigarros, com enorme satisfação por serem dois cigarros semiperfeitos sem se desfazerem pela atabalhoada alcoolémia ao mínimo movimento, oferece o segundo cigarro ao parceiro, desmancha-se em espanto por ver lágrimas percorrendo a sua face, com os olhos postos no horizonte clamando silenciosamente algo perdido no imperceptível do nada.
Rendido ao mar de lágrimas, cede à questão e introverte-se nos pensamentos do alheio.
-Homem, pára de chorar, porque tás a chorar?
O silencio permanece, interrompido com soluços descontrolados, já desconfortável com tanta tristeza interpõe os soluços.
-Isto começa a ser estúpido demais, ninguém se mete a chorar para um rio, especialmente quando não vê nada nele.
Tentando-se controlar, sorve as lágrimas para si juntamente com o ranho já abundante, leva a cara ao ombro para limpar a baba que já seca no canto da boca.
-Ora não tenho culpa, choro, queres o quê?
Dois homens feitos, meio tortos, um fumando um cigarro de olhar espantado, o outro de olhos inchados, aceita o cigarro e acende-o, completando uma bela imagem por quem passe por detrás deles, duas silhuetas sentadas à beira rio, ambas fumegando. Mas sem ninguém que exista nas redondezas, a sua solidão propicia ao desabafo.
-Mas conta-lá, porra, nunca te vi assim, passa-se algo?
-Nada, estava só a olhar.
-Mas a olhar para onde? Não há nada ali, ó. – aponta em frente mostrando a interte e vazia palma da mão.
-Não percebes. – disse mergulhando a cara nas mãos.
-Epá, é possível, mas só a mim me podes explicar o que se passa, acho que mais ninguém irá estar assim como eu estou agora, completamente bêbado e receptivo a qualquer estupidez imperceptível que venha.
- Oh, espero.
-Esperas? Esperas quem, pelo barco?
-Não, comtemplo, observo, espero.
-Mas o quê homem?
-Nada.
-Nada como?
-Nada, desculpa, só espero algo.
-Mas como esperas tu se nada vem?
- Tens razão, já não espero, só comtemplo, mas se viesse, oh se viesse.
-Se viesse o quê? Quem?.
-Nada, nem sei, algo, alguém, que viesse, que venha.
-Fazer o quê?
-Algo.
O silencio invadiu os dois, fumaram o resto dos cigarros até se apagarem nos dedos, ambos observavam o nada da neblina até esta se decidir a dissipar e levantar-se, deixando a descoberto o infinito escuro da noite, reflectindo o céu nas águas inertes do rio.
Um solitário suspiro, seguido de outro.
-Emprestas-me dinheiro?
-Para quê?
-Para bebermos um copo, pergunta parva a estas horas.
-Já me deves o equivalente a dois meses de trabalho.
-E achas que te vou pagar?
-Não.
-Então vamos beber um copo, pois venha o que vier não será maior que a minha divida. "