quarta-feira, junho 20, 2012


Do desassossego ao aborrecimento, contam-se os dias de forma rotinada,
O aborrecimento dá lugar à razão,
A razão exausta da realidade, submete-se, não exige ou implora,
O ser submetido à razão aborrece-se,
Não implora, habitua-se.

Habituado o ser existe, não realiza através da razão o dessossego que o transforma e difere.
Habituado o ser existe,
mas aborrecido.

sexta-feira, junho 15, 2012

Senhor Pastor


Manhã serena, cheia de terra molhada no odor.
Faz um frio húmido sobre o chão seco,
tudo lembra a chuva que vem,
e nesta hora que o sol se apronta,
vem o pastor,
Hoje tal como todos os dias, sempre por esta hora, vem de camisola cor de rosa da Lacoste, guarda chuva, (porque vai chover?) um saco de plástico com o farnel e calças velhas, castanhas e sujas.
Sempre à mesma hora de manhã passa aqui, sempre de tarde volta (para casa?).
Sempre passa, olhar no chão, calado, a poucos metros de mim, nunca bom dia ou boa tarde, noite, grunhido ou quer que seja.

Atravessa a estrada, salta a vedação com tudo o que carrega, devagar, junto ao poste que é mais fácil, com uma paciência simples, pé na rede, alto sobre o farpado pula ao outro lado, sério, sólido, não se revela triste, só calado, nunca resmungando.

Senhor pastor, hoje que vem de cor de rosa, cheire a terra molhada, levante o nariz e veja.

Talvez não seja um pastor feliz,
que a falar verdade,
além de nos versos, nunca vi um que o fosse,
a falar verdade,
a merda de ovelha também cheira mal.

terça-feira, junho 12, 2012

Literatura e tudo o resto

Nenhuma novidade, nada.
Tudo à volta do mesmo,
do umbigo, do amor, da vida, da morte.

Mas o que é belo, ignoramos.
Está na hora de abrir as janelas.

Ou se atiram delas,
ou apreciam a paisagem.

sexta-feira, junho 01, 2012

Chegar a velho


Viver tudo até ao fim,
fazer tudo para chegar a velho?

E velho nada ser?
Porque não a própria vida, todos os dias e segundos, todas as manhãs e noites como a ultima?
Porque somos todos o mesmo, sempre vivendo além do que não queremos, e nunca iremos ser, realizando o nada, prolongando o visita.

A visita, é feita para ser apreciada, senão quando a acabarmos, estaremos vazios de nada, seremos sempre o nada.

Apreciando, acabaremos e estaremos com o mesmo nada, mas ao menos apreciámos, sentimos, e mais importante que tudo sobre qualquer uma ideia do que é ser, é o facto, pleno e simples, que nos faz realizar que nesta utópica visita, vivemos.