sexta-feira, abril 29, 2011

Carta aberta a saramago

De Saramago pesa-me na consciência não ter aproveitado a sua vida. De um escritor morto racionamos cada obra de arte para prolongar ao máximo suas surpresas e obras a apresentar.
E eu sofro a cada página que devoro com a consciência de que de José não há mais surpresas, não há mais a perfeição em histórias narradas tão únicas, singulares e tão comuns, porque a vida não pode ser melhor representada sem sua Pena.
Minha ignorância por sua extensa obra ainda o transporta em mim vivo, minha ignorância, diga-se ter nascido tarde e não o encontrar cedo, mas suspeito de guardar algo para o meu fim, algo, para de alguma forma o manter vivo e vê-lo lançar à minha frente um novo best-seller, um desses que nunca li.
E depois, quando for velhinho, algo que ele nunca foi, vou-me esquecer do eu que o leu e nessa altura, vou-me reencontrar nele e ele vai ser novamente presença na livraria que se fareja e quase-se pergunta à indiferente vendedora:
Desculpe saiu um novo do Saramago?
A confusa profissional aponta a um canto julgando ser a resposta mais acertada.
O velho esquecido que serei, esse poderá rejubilar por se encontrar nas mesmas palavras que um dia fui,
no novo,
e mesmo best-seller.

Vitor Marques - 29/04/2011
info@josesaramago.org